terça-feira, 24 de março de 2009

A menina

Sapatos gastos, olhar perdido, calças puídas, camisa entreaberta, braços jogados, pernas esticadas, olhar perdido...

Assim está ela. Sentada no chão amparada pela branca parede as costas. Olha perdido, talvez a vagar em seus pensamentos, mas seu olhar mesmo perdido transmite a falta de algo que não podemos explicar o que seja ao certo, porém a imagem terna leva-nos a crer que sofra e assim como um bichinho acuado esteja à busca de afagos.

Seu sapatos gastos revelam que andaram milhares de quilômetros, porém não nos dizem por onde andaram, mas cremos que ainda hão de andar, andar e andar. Sua natureza inquieta faz dela uma pessoa em constante mutação sempre em busca de algo que nem ela mesma sabe onde está.

Talvez esteja ali sentada pensativa imaginando o quanto ainda terá de caminhar até que enfim chegue ao seu destino. Mas qual afinal é o seu destino? Não sabemos. Por hora sabemos que ali está imóvel, sentada pernas esticada, braços jogados, calças puídas, camisa entreaberta e sapatos gastos.

Quem será ela? Não sabemos ninguém sabe. Mas o certo é que sua fisionomia nos transmite uma sensação de desejo imensurável de acolhê-la em nossos braços, enlaçá-la num terno abraço e dizer-lhe estais entre amigos e tudo ficará bem, mas o medo nos impede. Temos medo que fuja e vá para outras veredas.

A menina sentada de sapatos gastos, calças poídas, camisa entreaberta, pernas esticadas, braços jogados e olhar terno são como um bicho que busca carinho, mas que tem medo de se aproximar.

Talvez amanhã, quem saiba não voltemos a vê-la por ai, caminhando ao nosso lado em busca do que procura? Quem sabe o talvez nos leve um dia cruzar seu caminho e então tomados de coragem perguntaremos a ela no que pensava o que sentia o que desejava o que procurava e ainda procura.

Por hora ela ainda está lá sentada, amparada apenas pela branca parede as suas costas, calças puídas, camisa entreaberta, pernas esticadas, braços largados, olhar perdido.